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A gota d`água de Agnes


Publicação original reproduzida em edição de Forgotten Books



O próximo projeto da Editora Donizela é a edição da tradução do livro Drops of Water: Their Marvellous and Beautiful Inhabitants Displayed by The Microscope, de Agnes Catlow, publicado em 1851 por Reeve e Benhan (Londres).


O livro, disponível em domínio público, foi transcrito por Jislaine Figueira Coradel Coltro (servidora pública atuante na Revista Floresta do Departamento de Ciências Florestais da UFPR), traduzido por Angela Ikeda (bióloga e geneticista atuante no Laboratório de Biotecnologia Florestal do Departamento de Ciências Florestais da UFPR) e terá edição em capa dura com lâminas coloridas em publicação prevista para o primeiro semestre de 2024.


Agnes Catlow (1806/7 - 1889) foi uma escritora científica britânica do século XIX, mais conhecida por um livro popular sobre conchologia. Nasceu em Mansfield, Nottinghamshire, sendo filha de Samuel e Elizabeth Catlow. Na década de 1860, Agnes e sua irmã Maria Catlow (1840 - 1874) moravam em Chertsey, Surrey. Pouco se sabe sobre sua formação familiar e educação, mas pelas publicações era versada principalmente em ciências naturais como zoologia e entomologia. Ao longo de sua vida, viajou muito, às vezes com sua irmã Maria, que também era escritora científica. Agnes morreu em Addlestone, Surrey, em 10 de maio de 1889, aos 82 anos.


O livro Gotas de Água: seus maravilhosos e belos habitantes exibidos pelo microscópio é um dos raros exemplos sobre a escrita científica das mulheres vitorianas, no qual Agnes incentiva as mulheres a aproveitarem a posição de “outsider” científica para escreverem de forma acessível as descobertas da época. No livro, a autora descreve o que observou, microscopicamente, em quatro gotas de água, exemplificando ao leitor que pode utilizar um microscópio as infinitas possibilidades de uso do instrumento.


Desde a publicação de Microphagia, de Robert Hooke, em 1665, britânicos ficaram fascinados pelo mundo natural microscópico, mas o dispositivo para enxergar este minúsculo e fascinante mundo tornou-se um recurso regular nas salas de aula da classe média na era vitoriana, sendo antes restrito aos ricos pesquisadores.


Agnes publicou seu livro na segunda onda da microscopia, em 1851, concentrando as observações nos “animálculos” ou “infusórios”, animais pequenos na água estagnada, indetectáveis a olho nu. A publicação tinha o intuito de ser um guia amigável para amadores que tivessem acesso à um microscópio, pontuando que a sua visita guiada, e também amadora, os permitiria entrar em um “país das maravilhas oculares”. A forma com que a autora descreve os animálculos é cativante e lúdica, já que os descrevia como novos seres descobertos em um reino encantado, aproximando a precisão de uma cientista ao talento de uma contadora de histórias.


O livro é acompanhado pela ilustração de quatro lâminas, as quatro gotas de água observadas. As litografias são assinadas como "Achilles del et lith" (Aquiles desenhou e litografou isto). Aquiles pode ser algum ilustrador bem como um pseudônimo da própria autora, que, junto a irmã, somou uma carreira de 25 anos como coautora, com vívidas ilustrações desenhadas à mão, tornando as ciências naturais acessíveis a um público amplo.


Seu maior sucesso como autora foi o livro Popular Conchology, de 1842, com mais de 350 páginas, sobre famílias de conchas existentes e conchas fósseis. Na primeira edição, organizou as famílias e os gêneros de acordo com a obra de Jean-Baptiste Lamarck; na segunda edição, seguiu o sistema do zoólogo germano-chileno Rodolfo Amando Philippi, cujo Manual de Conchologia e Malacologia foram publicados não muito antes. As descrições foram baseadas no trabalho de Philippi, bem como de outras autoridades contemporâneas. As abundantes ilustrações em preto e branco de conchas foram derivadas principalmente de imagens publicadas em outros lugares, com alguns acréscimos da própria autora. Vários livros de Agnes foram publicados pela Reeve and Benham, a empresa fundada pelo famoso conchologista Lovell Augustus Reeve.


Segundo William B. Ashworth, Jr., de Linda Hall Library, Agnes conhecia bem os trabalhos mais recentes de autoridades sobre microrganismos, especialmente Christian Ehrenberg, cujo Infusionsthierchen als volkommene Organismen (Infusoria as Perfect Organisms), de 1838, foi referenciado em seus textos. Mas Agnes estava claramente familiarizada com todos os microrganismos sobre os quais escreveu. Por exemplo, ela descreveu o comportamento das Vorticella, que se prendem a uma planta por meio de uma gavinha e depois flutuam para se alimentar; se estiverem alarmados, podem contrair uma fibra da gavinha e fazê-lo tão rápido que você nem consegue vê-los se mover – em um momento eles estão lá, no próximo eles desaparecem. Esse não é o tipo de coisa que você aprenderia com o livro de Ehrenberg (embora você possa aprender com o dela).


 

Fontes consultadas, traduzidas e editadas para este texto:



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